sexta-feira, 13 de maio de 2011

Horário de almoço

Allan não suportava hippies do centro pondo em dúvida sua humildade.
Sentado no chão com suas pequenas tralhas à venda, organizadas em cima d'um pano verde encardido, um deles convida:
- Cabelo, chega ae!
- Desculpa, tenho que ir lá... – diz andando a passos lentos.
- Pô, chega aeee! – fala expressando indignação, rosto de criança prestes a chorar.
- Pô, não dá, cara. Desculpa, tenho que ir lá...
Olha nos olhos do vagabundo, abre e mostra as palmas das mãos tentando demonstrar compaixão e pressa.
- Aahh, chega aeeeeeeeee, bicho... – e a expressão vai aos poucos se transformando num sorriso triste.
Allan continua mostrando as palmas das mãos e comprimi os lábios como forma de dizer “É uma pena, quem sabe outra hora”.
O sorriso triste vira sorriso. O sorriso vira risada. Então riem juntos como velhos amigos passando por alguma situação estúpida.
Allan segue seu caminho sentindo-se de certa forma mais feliz. A raça humana tem lá suas preciosidades.
Olha no relógio e sobe a rampa final da Av. São João pensando que ainda tem uns doze minutos de horário de almoço para gastar e que provavelmente os passará sentado no sofá do Protocolo Geral.

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