Ano: 2012. Não há esperança. Agora temos vinte e seis.
Não temos mais paciência. Não sabemos escrever, não há mais nada sobre o que
escrever, temos a Internet. Somos como o grupinho de poetas perdedores que se
reúnem semanalmente na casa de um deles e lêem suas poesias. Primeiro um,
depois o outro, e depois o outro. Não queremos ouvir, queremos ser ouvidos.
Queremos um pouco de aplausos, queremos acrescentar algumas gotas ao nosso ego.
Mas não sabemos escrever, não nos dedicamos o suficiente. Temos a maldita
Internet, temos o maldito facebook. Sr. Google é nosso revisor. Não mais
ouvimos os aplausos falsos de uma dúzia de poetas tristes e infelizes que
aguardam sua vez de falar. Agora obtemos alguns “curtiram”, alguns
compartilhamentos, alguns “amigos”, alguns “seguidores”. Aguardamos
ansiosamente o iconezinho ficar na cor vermelha e lamentamos quando não passa
de um convite para um calendário qualquer. Estamos viciados, como acontece com
a cocaína, viciados como acontece com a televisão e com a coca cola. Precisamos
do ego, mais ego por favor! Não há mais gritos, assobios e congratulações. Lemos
sós numa casa vazia. Entregamos nossa alma ao nada, somos acolhidos pelo
silêncio. Morreremos e não seremos descobertos. Ninguém lembrará de nada após
três ou quatro anos. Nossas contas serão deletadas automaticamente ou por
nossos parentes. Cairão por uso indevido de direitos autorais. Mas ninguém nos
plagiará, podemos ficar tranquilos quanto a isso. Ninguém nos plagiará, infelizmente.
Gravaremos para nós, escreveremos para nós. E quando outra pobre alma a
trezentos e cinquenta quilômetros de distância comentar sobre o que fizemos sem
ter visto, lido ou ouvido sequer um terço, será como uma dose de nicotina ou
0,5 miligrama de Alprazolam. Será como a punheta que tranquiliza pelos próximos
minutos. Então fará um convite para que conheçamos sua obra. Nos esforçaremos, enfrentaremos
o tédio por quatro ou cinco minutos e seremos generosos no comentário. Isso o
trará de volta mais pra frente. Esperamos que isso o traga de volta. Precisaremos
daquelas malditas gotas.
domingo, 26 de agosto de 2012
sábado, 28 de julho de 2012
Voodoohop - Parte I
caminhamos na chuva. o efeito do
álcool já estava
passando, eu estava meio
deprimido e precisava cagar.
refleti e resmunguei o caminho
todo se não era melhor
voltar pra casa, cagar e mandar
ao inferno essa maldita
balada da qual eu nunca ouvira
falar. Alex insistia e
sugeriu pagar a minha entrada,
deixando a opção mais
atraente.
aí surgiu também uma vontade
insuportável de mijar.
a rua estava semi deserta, sem
tetos dormiam na noite
chuvosa do centro, alguns se
remexiam no chão e
olhavam de canto para nós.
Carmina e Fulgêncio
encostaram numa ponta, acenderam
um baseado,
insistiram alguns segundos para
eu e Alex darmos
uns pegas e recusamos. eu só
precisava mijar, cagar
e deixar de existir.
depois de evitar uns policiais e pular
algumas poças
d’água, avistamos um burburinho e
era lá. Alex pagou
as 50 pilas correspondentes à
minha entrada e a dele,
carimbaram nosso braço com o
desenho de um prédio
em tinta preta, passamos pela
revista e entramos.
subimos um e depois outro lance
de escada bem
iluminado, parecia a droga de um
prédio velho comum
do centro. mas tinha um clima
estranho no ar, as
pessoas eram estranhas e eu só
conseguia pensar que
estava no maldito albergue
daquele filme e lá em cima
dariam um jeito de me desmaiar
com uma pancada na
cabeça e então eu acordaria
amarrado numa cadeira com
um doente sádico segurando um
maçarico ou uma serra
elétrica na minha frente. tive
medo, tive realmente medo.
chegando ao andar confirmei que
realmente se tratava
de um prédio velho e comum do
centro, lembrava até
bastante o que eu morava, porém
com os corredores
estranhamente iluminados de azul,
vermelho e pessoas
conversando, circulando ou
paradas em filas. fotos de
mulheres nuas, homens velhos e novos com acessórios
de couro e pênis eretos grudadas
nas paredes. nos
informamos sobre o banheiro e o
guarda volumes e
corri para lá.
contrariando minhas expectativas
o banheiro tinha,
além dos mictórios, três cabines
com privadas que
davam para trancar e parecia bem limpo!
fiz tudo que
tinha que fazer e quando fui me limpar,
percebi que o
papel higiênico já vinha picotado,
mas tudo bem. o
problema é que eu me limpava e a sujeira
nunca
acabava, já estava no sétimo ou
oitavo picote e o
papel continuava besuntado de
merda. bateu
um leve desespero e comecei a
ficar meio maluco,
me perguntando se na verdade eu
não estava naquele
tipo de sonho que você está com
vontade de mijar, mija,
mija, mija, e a bexiga continua
cheia. mas parecia tão
real! pensei também que estava
demorando muito e não
tardaria algum segurança bater na
porta desconfiado
que eu estivesse trancado fazendo
uso de substâncias
ilícitas pesadas. a iluminação
estava meio azul e não
dava para ver exatamente a cor da
merda no papel,
parecia meio preto então comecei
a me perguntar se
aquilo na verdade não era meu cu
sangrando sem parar,
mas depois de alguns tensos
segundos o papel passou
a sair mais limpo e então
totalmente limpo. levantei as
calças, baixei a tampa da
privada, puxei a cordinha,
abri a porta, lavei as mãos,
sequei e saí dali.
Alex me esperava. fomos até o
guarda volumes deixar
sua mochila. aquela sensação de
sonho e esquisitice
de vez em quando voltava. quando
fomos dar uma
volta para conhecer melhor o
ambiente eu percebia que
boa parte das pessoas não estavam
simplesmente
curtindo como em qualquer balada
comum e sim
curiosas, conhecendo o ambiente,
com receio de abrir
cada porta, cada cortina e se
impressionando, rindo
e comentando com os amigos quando
avistavam uma
maldita banheira no chão, um
manequim sem cabeça,
camisinhas infladas flutuando no
ar... mas que porra!
depois de rodar e rodar passamos
pela porta que
para mim foi o ponto central da
noite. a iluminação do
corredor era fraca, e em uma das
portas havia uma
cortina preta meio esfarrapada
que não deixava ver
o que se passava lá dentro. dois
garotos se esgueiravam
meio temerosos com o olhar para
dentro, por detrás da
cortina e saíam com uma expressão
meio engraçada,
surpresa e assustada, eu não
sabia definir muito bem.
a curiosidade e o medo se
apossavam de mim, uma
dose de adrenalina subia, Alex
puxou um pedaço da
cortina e enfiou o pescoço lá. saiu
com uma expressão
que eu também não soube decifrar
e me disse “você
tem que ver isso, você realmente
tem que ver isso, sua
vida nunca mais será a mesma
depois de você ver isso”.
todo tipo de imagem passou então dentro
da minha
cabeça naqueles segundos. sexo
comum a dois, pessoas
se bolinando, orgias bissexuais,
rituais sadomasoquistas,
torturas no estilo albergue, dor,
morte, sofrimento.
adrenalina, medo, curiosidade,
deus eu devo ter alguma
doença! puxei um pouco para o
lado a maldita cortina e
a sala estava bem escura, fiquei
lá forçando a vista. me
pareceu haver algumas pessoas
sentadas num sofá e a
única coisa mais clara que
consegui destinguir foi a
silhueta de um negão gigante de
regata. continuei sem
entender o que diabos estava
acontecendo ali, perguntei
a Alex o que ele tinha visto e ele
disse “um negão de
maiô”. era isso que eu não podia morrer
sem antes
ver? Alex deve ter algum problema.
demos mais algumas voltas,
passamos na pista de
dança, Alex enfrentou a fila,
pegou água e algumas
cervejas e depois de uns trinta
minutos já conhecíamos
o lugar de cabo a rabo e a coisa
começou a ficar meio
monótona. vez ou outra dávamos
uma espiadela na
sala do negão, sempre havia gente
curiosa em volta.
percebemos que as figuras
principais lá dentro eram
ele e mais uma mulher. o negão
nos informou que
só estavam esperando o DJ começar
a tocar no
ambiente ao lado que eles dariam
início à performance.
num outro momento que passamos
por lá, haviam
mais pessoas do lado de fora,
ouvia-se pancadas e
gritos na sala, um tipo curioso
de chapéu fez
amizade com o negão e a garota e
permaneceu
desde então na porta o tempo todo,
agitando, rindo,
organizando, perguntando a todos
se queriam “levar
umas palmadinhas”. elas ficavam
apreensivas,
perguntavam detalhes sobre como
funcionava, se
detinham lá um tempo, algumas
entravam, outras
iam embora, outros falavam que
precisavam beber
mais pra tomar coragem e depois
voltar.
definitivamente era a melhor
parte da balada. o
mistério crescia, a curiosidade,
a vontade de entrar
lá apesar do medo, era uma
sensação boa, tinha um
quê de pré adolescência, o lance
do novo, do
desconhecido. um rapaz negro,
alto e magro se
juntou ao tipo de chapéu e
ficaram de guardiões
da porta.
logo as pessoas, garotos e
garotas já se
posicionavam para entrar,
colocavam uma
venda nos olhos e entravam.
alguns diziam que
era muito bom, que valia a pena,
que você
entrava e escolhia se queria o
homem ou a mulher
mas não podiam contar mais nada
pois estragaria
a surpresa. uma garotinha tinha
saído de lá e não
lembro muito bem como começamos a
puxar
papo, mas ela ficou encorajando a
mim e ao Alex
a entrar lá, percebi seu sotaque
espanhol mas
não soube afirmar se era legítimo
ou se era uma
gracinha típica das pessoas que
lá frequentavam.
momentos antes eu tentara definir
junto com Alex
qual era a tribo dominante do
lugar e a melhor
definição que consegui foi
“alternativos surreais”.
era um povinho bem estranho.
a garota era bonita e
extremamente simpática,
e depois de alguma conversa Alex
tomou coragem
e entrou. passou um tempo ali
dentro e quando
saiu sua cara não era de muita
felicidade, parecia
meio suado. “e ae, você foi
sodomizado?”, “sim,
mas por uma mulher, então não foi
tão mal”, “ein,
sério?”, “não, ela só fica se
esfregando em você e
é isso”, “mas de roupa? tem que
tirar a roupa?”,
“não, não, tudo de roupa”, “ah,
mas você pode
escolher antes se quer a mulher
ou tem risco de
você escolher o negão sem querer
quando tá
vendado?”, “não, você escolhe
antes se quer a
mulher ou o negão”, “ah, então
você recomenda
que eu vá?”, “sim, sim”.
algo me dizia que ele estava
omitindo fatos, havia
a possibilidade de todos que
entrassem lá se
foderem e depois a única coisa
que restava era
falar que foi bom para não
ficarem com o
sentimento de que se foderam
sozinhas. mas a
minha paranóia até que diminuíra
bastante após
o relato. enrolei mais um
pouquinho, dei umas
voltas, passei no banheiro, dei
mais uma cagada
rápida, voltei, peguei a venda e
aguardei minha
vez de entrar. optei pela garota.
deixei meus óculos com Alex, mas
logo pedi de
volta e guardei-os no bolso,
poderia precisar deles
caso a coisa ficasse perigosa e
eu tivesse que lutar
ou fugir. a espera parecia
interminável, finalmente
me vendaram e eu entrei. ainda
fiquei ali um
minuto de pé sem que nada
acontecesse, acho que
ela esqueceu que já tinha entrado
alguém e ficou
com o rosto pra fora da cortina
conversando com o
pessoal. tirei a venda pra ver o
que estava
acontecendo. creio que o negão
percebeu a situação
e gritou o nome dela, que
prontamente veio em
minha direção perguntando com voz
sexy de
dominadora porque eu estava
tirando a venda e
colocando-a de volta no lugar.
respondi qualquer
coisa e o show começou.
ela era realmente boa, sabia
deixar um homem louco.
a princípio eu não sabia muito
bem onde posicionar
as mãos, mas aos poucos fui
arriscando. segurei sua
cintura, deslizei os dedos pelas
coxas. foi só uma
questão de tempo até eu estar
atolando as duas mãos
em sua maravilhosa bunda gelada.
ela usava uma
lingerie tipo fio dental,
esfregava a bunda no seu pau,
pegava nele, mordiscava... era
boa, realmente boa.
Infelizmente, depois de um tempo
ela parou. tirou a
venda e sorrindo informou que
havia acabado.
perguntou se eu tinha gostado e
informei-a que sim.
pus os óculos de volta, me
despedi e saí da sala.
Continua (...)
Continua (...)
domingo, 20 de maio de 2012
escola
algumas poucas coisas da época
da escola fazem falta.
bilhetinhos
comprometedores, rankings das
garotas mais gostosas na última
folha do caderno, a adrenalina
que
subia quando as páginas caiam em
mãos erradas, garotas sentando no
seu colo perguntando se você
ficava de pau duro facilmente e
você gaguejando em busca da
resposta perfeita.
ninguém nunca pegava ninguém
no grupo dos impopulares. era um
bocado frustrante mas mesmo
assim haviam as coisas que hoje
fazem falta. sua melhor amiga se
esfregando em você e você
tentando esconder aquela ereção,
selinhos repentinos a troco de
nada
ou como pagamento de algum tipo
de aposta, a incrível aparência
das
garotas de cabelo preto e liso,
aos
dezesseis anos de idade, no
inverno, com blusas de moletom
brancas e calças azuis.
aquela safadeza ingênua típica
dos
pré adolescentes. quando o beijo
era o objetivo máximo, talvez
acompanhado de uma passadinha
de mão, abraços e algumas
encochadas. onde diabos foi parar
a safadeza ingênua e espontânea
dos adultos? quando o objetivo
passou a ser o sexo escondido a
qualquer custo ao invés de beijos
em público com uma platéia de
vinte alunos batendo palmas,
gritando e assobiando como loucos?
no mundo adulto todos devem agir
como malditos assexuados sem
paixões e amigos íntimos, a não
ser
que encontrem-se numa merda de
danceteria, numa sexta ou sábado
à
noite, ao som de música
eletrônica.
e lá os impopulares não conseguem
nenhum tipo de ação.
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