sábado, 19 de novembro de 2011

o jogo


eu tinha algo como quinze,
ela algo como treze e um corpo
já de mulher. eram dias sombrios.
nos víamos todos os dias e ela era
uma espécie de namorada do meu
melhor amigo. moravam no mesmo
prédio, perto da escola. lá que tudo
acontecia depois das aulas.

jogávamos bola, ela descia para
assistir e seus olhos verdes
cuidavam de criar todas as
guerras e desavenças entre eu,
o melhor amigo e um outro amigo.
a princípio foi minha primeira
amizade marcante com alguém do
sexo oposto. logo mais foi aquilo
que me fez perceber o quão enorme
é o abismo que separa o estar a fim
de alguém do estar apaixonado por
alguém.

guerras, guerras. guerras silenciosas,
guerras psicológicas. eram dias
loucos, estranhos, inéditos. digo
espécie de namorada porque eles
nunca tinham sequer se beijado,
então eu e Fernando nos sentíamos
no direito de entrar na disputa de
forma limpa, ou quase.

foi  num dia sentados no hall do
apartamento dela, apenas eu e ela,
que alguém propôs um tipo de
teste. algo como uma prova de
amizade verdadeira. a primeira
amizade verdadeira com alguém
do sexo oposto. a primeira vez
que me enfeitiçam feito um rato.
  
então lá estava ela fazendo caras e
bocas. vem. esse era o jogo. pode
passar a mão. colava a camiseta
nos seios já bem desenvolvidos.
posso? pode! mordia os lábios.
encosta! eu não podia encostar.
pode vir. enchia ambas as mãos,
massageando-os. eu levava as
minhas à cabeça e meu coração
disparava. não é um teste, pode
passar a mão... e eu com o pau
duro feito pedra não tive escolha.
também enchi as mãos, também
massageei. foram os melhores
cinco segundos da minha vida
até aquele momento e eu falhara
no teste.

não lembro de que forma consegui
me desculpar e ganhar uma nova
chance. ela usou basicamente a
mesma tática. vem, pode passar a
mão... isso, encosta! não é um teste...
você quer? pode vir... e, pela
segunda vez, fui derrotado.

o clima fechou. nos levantamos.
ela estava puta, ou fingia estar.
acho que realmente estava, afinal,
de acordo com o resultado da
prova, eu não era seu amigo de
verdade. sugeri que talvez fosse
melhor eu ir para minha casa e ela
concordou.

dias depois, voltamos a nos falar.
junto voltaram as guerras, voltaram
as loucuras, voltaram os jogos.
outros tipos de jogos. jogos inéditos,
jogos psicológicos, jogos muitas 
vezes cruéis. eram dias estranhos.