domingo, 26 de agosto de 2012

Sobre os dias atuais


Ano: 2012. Não há esperança. Agora temos vinte e seis. Não temos mais paciência. Não sabemos escrever, não há mais nada sobre o que escrever, temos a Internet. Somos como o grupinho de poetas perdedores que se reúnem semanalmente na casa de um deles e lêem suas poesias. Primeiro um, depois o outro, e depois o outro. Não queremos ouvir, queremos ser ouvidos. Queremos um pouco de aplausos, queremos acrescentar algumas gotas ao nosso ego. Mas não sabemos escrever, não nos dedicamos o suficiente. Temos a maldita Internet, temos o maldito facebook. Sr. Google é nosso revisor. Não mais ouvimos os aplausos falsos de uma dúzia de poetas tristes e infelizes que aguardam sua vez de falar. Agora obtemos alguns “curtiram”, alguns compartilhamentos, alguns “amigos”, alguns “seguidores”. Aguardamos ansiosamente o iconezinho ficar na cor vermelha e lamentamos quando não passa de um convite para um calendário qualquer. Estamos viciados, como acontece com a cocaína, viciados como acontece com a televisão e com a coca cola. Precisamos do ego, mais ego por favor! Não há mais gritos, assobios e congratulações. Lemos sós numa casa vazia. Entregamos nossa alma ao nada, somos acolhidos pelo silêncio. Morreremos e não seremos descobertos. Ninguém lembrará de nada após três ou quatro anos. Nossas contas serão deletadas automaticamente ou por nossos parentes. Cairão por uso indevido de direitos autorais. Mas ninguém nos plagiará, podemos ficar tranquilos quanto a isso. Ninguém nos plagiará, infelizmente. Gravaremos para nós, escreveremos para nós. E quando outra pobre alma a trezentos e cinquenta quilômetros de distância comentar sobre o que fizemos sem ter visto, lido ou ouvido sequer um terço, será como uma dose de nicotina ou 0,5 miligrama de Alprazolam. Será como a punheta que tranquiliza pelos próximos minutos. Então fará um convite para que conheçamos sua obra. Nos esforçaremos, enfrentaremos o tédio por quatro ou cinco minutos e seremos generosos no comentário. Isso o trará de volta mais pra frente. Esperamos que isso o traga de volta. Precisaremos daquelas malditas gotas.