sábado, 28 de julho de 2012

Voodoohop - Parte I


caminhamos na chuva. o efeito do álcool já estava
passando, eu estava meio deprimido e precisava cagar.
refleti e resmunguei o caminho todo se não era melhor
voltar pra casa, cagar e mandar ao inferno essa maldita
balada da qual eu nunca ouvira falar. Alex insistia e
sugeriu pagar a minha entrada, deixando a opção mais
atraente.

aí surgiu também uma vontade insuportável de mijar.
a rua estava semi deserta, sem tetos dormiam na noite
chuvosa do centro, alguns se remexiam no chão e
olhavam de canto para nós. Carmina e Fulgêncio
encostaram numa ponta, acenderam um baseado,
insistiram alguns segundos para eu e Alex darmos
uns pegas e recusamos. eu só precisava mijar, cagar
e deixar de existir.

depois de evitar uns policiais e pular algumas poças
d’água, avistamos um burburinho e era lá. Alex pagou
as 50 pilas correspondentes à minha entrada e a dele,
carimbaram nosso braço com o desenho de um prédio
em tinta preta, passamos pela revista e entramos.

subimos um e depois outro lance de escada bem
iluminado, parecia a droga de um prédio velho comum
do centro. mas tinha um clima estranho no ar, as
pessoas eram estranhas e eu só conseguia pensar que
estava no maldito albergue daquele filme e lá em cima
dariam um jeito de me desmaiar com uma pancada na
cabeça e então eu acordaria amarrado numa cadeira com
um doente sádico segurando um maçarico ou uma serra
elétrica na minha frente. tive medo, tive realmente medo.

chegando ao andar confirmei que realmente se tratava
de um prédio velho e comum do centro, lembrava até
bastante o que eu morava, porém com os corredores
estranhamente iluminados de azul, vermelho e pessoas
conversando, circulando ou paradas em filas. fotos de
mulheres nuas,  homens velhos e novos com acessórios
de couro e pênis eretos grudadas nas paredes. nos
informamos sobre o banheiro e o guarda volumes e
corri para lá.

contrariando minhas expectativas o banheiro tinha,
além dos mictórios, três cabines com privadas que
davam para trancar e parecia bem limpo! fiz tudo que
tinha que fazer e quando fui me limpar, percebi que o
papel higiênico já vinha picotado, mas tudo bem. o
problema é que eu me limpava e a sujeira nunca
acabava, já estava no sétimo ou oitavo picote e o
papel continuava besuntado de merda. bateu
um leve desespero e comecei a ficar meio maluco,
me perguntando se na verdade eu não estava naquele
tipo de sonho que você está com vontade de mijar, mija,
mija, mija, e a bexiga continua cheia. mas parecia tão
real! pensei também que estava demorando muito e não
tardaria algum segurança bater na porta desconfiado
que eu estivesse trancado fazendo uso de substâncias
ilícitas pesadas. a iluminação estava meio azul e não
dava para ver exatamente a cor da merda no papel,
parecia meio preto então comecei a me perguntar se
aquilo na verdade não era meu cu sangrando sem parar,
mas depois de alguns tensos segundos o papel passou
a sair mais limpo e então totalmente limpo. levantei as
calças, baixei a tampa da privada, puxei a cordinha,
abri a porta, lavei as mãos, sequei e saí dali.

Alex me esperava. fomos até o guarda volumes deixar
sua mochila. aquela sensação de sonho e esquisitice
de vez em quando voltava. quando fomos dar uma
volta para conhecer melhor o ambiente eu percebia que
boa parte das pessoas não estavam simplesmente
curtindo como em qualquer balada comum e sim
curiosas, conhecendo o ambiente, com receio de abrir
cada porta, cada cortina e se impressionando, rindo
e comentando com os amigos quando avistavam uma
maldita banheira no chão, um manequim sem cabeça,
camisinhas infladas flutuando no ar... mas que porra!

depois de rodar e rodar passamos pela porta que
para mim foi o ponto central da noite. a iluminação do
corredor era fraca, e em uma das portas havia uma
cortina preta meio esfarrapada que não deixava ver
o que se passava lá dentro. dois garotos se esgueiravam
meio temerosos com o olhar para dentro, por detrás da
cortina e saíam com uma expressão meio engraçada,
surpresa e assustada, eu não sabia definir muito bem.
a curiosidade e o medo se apossavam de mim, uma
dose de adrenalina subia, Alex puxou um pedaço da
cortina e enfiou o pescoço lá. saiu com uma expressão
que eu também não soube decifrar e me disse “você
tem que ver isso, você realmente tem que ver isso, sua
vida nunca mais será a mesma depois de você ver isso”.

todo tipo de imagem passou então dentro da minha
cabeça naqueles segundos. sexo comum a dois, pessoas
se bolinando, orgias bissexuais, rituais sadomasoquistas,
torturas no estilo albergue, dor, morte, sofrimento.
adrenalina, medo, curiosidade, deus eu devo ter alguma
doença! puxei um pouco para o lado a maldita cortina e
a sala estava bem escura, fiquei lá forçando a vista. me
pareceu haver algumas pessoas sentadas num sofá e a
única coisa mais clara que consegui destinguir foi a
silhueta de um negão gigante de regata. continuei sem
entender o que diabos estava acontecendo ali, perguntei
a Alex o que ele tinha visto e ele disse “um negão de
maiô”. era isso que eu não podia  morrer sem antes
 ver? Alex deve ter algum problema.

demos mais algumas voltas, passamos na pista de
dança, Alex enfrentou a fila, pegou água e algumas
cervejas e depois de uns trinta minutos já conhecíamos
o lugar de cabo a rabo e a coisa começou a ficar meio
monótona. vez ou outra dávamos uma espiadela na
sala do negão, sempre havia gente curiosa em volta.
percebemos que as figuras principais lá dentro eram
ele e mais uma mulher. o negão nos informou que
só estavam esperando o DJ começar a tocar no
ambiente ao lado que eles dariam início à performance.

num outro momento que passamos por lá, haviam
mais pessoas do lado de fora, ouvia-se pancadas e
gritos na sala, um tipo curioso de chapéu fez
amizade com o negão e a garota e permaneceu
desde então na porta o tempo todo, agitando, rindo,
organizando, perguntando a todos se queriam “levar
umas palmadinhas”. elas ficavam apreensivas,
perguntavam detalhes sobre como funcionava, se
detinham lá um tempo, algumas entravam, outras
iam embora, outros falavam que precisavam beber
mais pra tomar coragem e depois voltar.
definitivamente era a melhor parte da balada. o
mistério crescia, a curiosidade, a vontade de entrar
lá apesar do medo, era uma sensação boa, tinha um
quê de pré adolescência, o lance do novo, do
desconhecido. um rapaz negro, alto e magro se
juntou ao tipo de chapéu e ficaram de guardiões
da porta.

logo as pessoas, garotos e garotas já se
posicionavam para entrar, colocavam uma
venda nos olhos e entravam. alguns diziam que
era muito bom, que valia a pena, que você
entrava e escolhia se queria o homem ou a mulher
mas não podiam contar mais nada pois estragaria
a surpresa. uma garotinha tinha saído de lá e não
lembro muito bem como começamos a puxar
papo, mas ela ficou encorajando a mim e ao Alex
a entrar lá, percebi seu sotaque espanhol mas
não soube afirmar se era legítimo ou se era uma
gracinha típica das pessoas que lá frequentavam.
momentos antes eu tentara definir junto com Alex
qual era a tribo dominante do lugar e a melhor
definição que consegui foi “alternativos surreais”.
era um povinho bem estranho.

a garota era bonita e extremamente simpática,
e depois de alguma conversa Alex tomou coragem
e entrou. passou um tempo ali dentro e quando
saiu sua cara não era de muita felicidade, parecia
meio suado. “e ae, você foi sodomizado?”, “sim,
mas por uma mulher, então não foi tão mal”, “ein,
sério?”, “não, ela só fica se esfregando em você e
é isso”, “mas de roupa? tem que tirar a roupa?”,
“não, não, tudo de roupa”, “ah, mas você pode
escolher antes se quer a mulher ou tem risco de
você escolher o negão sem querer quando tá
vendado?”, “não, você escolhe antes se quer a
mulher ou o negão”, “ah, então você recomenda
que eu vá?”, “sim, sim”.

algo me dizia que ele estava omitindo fatos, havia
a possibilidade de todos que entrassem lá se
foderem e depois a única coisa que restava era
falar que foi bom para não ficarem com o
sentimento de que se foderam sozinhas. mas a
minha paranóia até que diminuíra bastante após
o relato. enrolei mais um pouquinho, dei umas
voltas, passei no banheiro, dei mais uma cagada
rápida, voltei, peguei a venda e aguardei minha
vez de entrar. optei pela garota.

deixei meus óculos com Alex, mas logo pedi de
volta e guardei-os no bolso, poderia precisar deles
caso a coisa ficasse perigosa e eu tivesse que lutar
ou fugir. a espera parecia interminável, finalmente
me vendaram e eu entrei. ainda fiquei ali um
minuto de pé sem que nada acontecesse, acho que
ela esqueceu que já tinha entrado alguém e ficou
com o rosto pra fora da cortina conversando com o
pessoal. tirei a venda pra ver o que estava
acontecendo. creio que o negão percebeu a situação
e gritou o nome dela, que prontamente veio em
minha direção perguntando com voz sexy  de
dominadora porque eu estava tirando a venda e
colocando-a de volta no lugar. respondi qualquer
coisa e o show começou.

ela era realmente boa, sabia deixar um homem louco.
a princípio eu não sabia muito bem onde posicionar
as mãos, mas aos poucos fui arriscando. segurei sua
cintura, deslizei os dedos pelas coxas. foi só uma
questão de tempo até eu estar atolando as duas mãos
em sua maravilhosa bunda gelada. ela usava uma
lingerie tipo fio dental, esfregava a bunda no seu pau,
pegava nele, mordiscava... era boa, realmente boa.
Infelizmente, depois de um tempo ela parou. tirou a
venda e sorrindo informou que havia acabado.
perguntou se eu tinha gostado e informei-a que sim.
pus os óculos de volta, me despedi e saí da sala.

Continua (...)