caguei,
engoli alguns comprimidos para dor
muscular,
ansiedade e diarreia. caguei
mais
uma vez e rumei apressado para
essa
consulta psicológica semanal gratuita
no
Mackenzie com essa estudante gordinha
gostosa
de 24 anos.
lá
me passaram o recado “você passa com
a
Marisa? às 19? você é o Tiago?” “isso”,
“ela
deixou um recado para você , ela pegou
uma
intoxicação e não poderá vir e entrará
em
contato assim que possível para reagendar
a
consulta”, “hmm, tudo bem, obrigado”. se a
gordinha
tava com diarreia não custava ter dado
um
toque e me poupado tempo e comprimidos,
poxa.
malditas estudantes peitudas e irresponsáveis.
depois
da brochada fui ao shopping tomar
café
e ler um do Bukowski. até hoje
não
sei se cafeína tem o poder de me tirar
o
sono, só sei que tomei um expresso
e
estava pescando em frente ao livro
e
então abri uma exceção na dieta
semi
semi semi vegetariana saudável
e
comi um triplo cheeseburger e
por
algum motivo pensei que ele talvez
me
ajudasse a enfrentar o sono.
não
ajudou.
fiquei
matutando no que fazer para matar o tempo
de
forma útil, pensei em escrever ou andar. não
queria
voltar para casa e a internet. não
suportava
o barulho da TV, do Datena, das
novelas,
dos padres cantores e pregadores e
todas
essas merdas que minha mãe amava. não
ter
o seu próprio quarto aos 29 anos era
desesperador.
morar com os pais aos
29
anos era desesperador.
desci
um lance de escada rolante, mijei e
decidi
descer mais um lance, achar um
banheiro
menos movimentado e tocar
uma
punheta. costuma dar mais sono
depois
que finalizamos mas ao menos eu
teria
alguns minutos de diversão. forrei o
assento
fechado com papel, baixei as calças
e
mandei ver por uns 7 minutos. gozei.
depois
fiquei sonhando com uma vida de Bukowski,
em
viver fazendo o que gosta, em largar o inferno
do
emprego público burocrático. acho que penso
nisso
todo santo dia. acho que muitos pensam.
na
verdade, uma pequena minoria. a maioria só
quer
mesmo é encher o rabo de dinheiro e comprar
tudo
quanto é merda, não importa o quão
nobre
ou patético ou humilhante seja o emprego.
por
que é tão difícil? por que tantos
tentam
imitar o velho Buk? quantos
já
não caíram de cara no chão e se
arrebentaram
tentando ser ele? que sorte
teve
aquele velho em encontrar seu estilo
próprio.
como seria meu estilo
se
eu não tentasse imitar o velho?
estilo,
estilo, estilo, venha, caralho,
venha
e abençoa-me.
peguei
outro café, tirei caneta, um
jornal
de concursos e um informe sobre
direitos
LGBT da mochila e comecei a
escrever
neles. em casa, se a preguiça
não
dominar, se o vírus dos zumbis de
facebook
não me congelar, eu passo isso
tudo
a limpo em arquivo. depois talvez
poste
num blog e não ganhe
um
comentário. não seria
a
primeira vez.