domingo, 25 de outubro de 2015

estilo

caguei, engoli alguns comprimidos para dor
muscular, ansiedade e diarreia. caguei
mais uma vez e rumei apressado para
essa consulta psicológica semanal gratuita
no Mackenzie com essa estudante gordinha
gostosa de 24 anos.

lá me passaram o recado “você passa com
a Marisa? às 19? você é o Tiago?” “isso”,
ela deixou um recado para você , ela pegou
uma intoxicação e não poderá vir e entrará
em contato assim que possível para reagendar
a consulta”, “hmm, tudo bem, obrigado”. se a
gordinha tava com diarreia não custava ter dado
um toque e me poupado tempo e comprimidos,
poxa. malditas estudantes peitudas e irresponsáveis.

depois da brochada fui ao shopping tomar
café e ler um do Bukowski. até hoje
não sei se cafeína tem o poder de me tirar
o sono, só sei que tomei um expresso
e estava pescando em frente ao livro
e então abri uma exceção na dieta
semi semi semi vegetariana saudável
e comi um triplo cheeseburger e
por algum motivo pensei que ele talvez
me ajudasse a enfrentar o sono.
não ajudou.

fiquei matutando no que fazer para matar o tempo
de forma útil, pensei em escrever ou andar. não
queria voltar para casa e a internet. não
suportava o barulho da TV, do Datena, das
novelas, dos padres cantores e pregadores e
todas essas merdas que minha mãe amava. não
ter o seu próprio quarto aos 29 anos era
desesperador. morar com os pais aos
29 anos era desesperador.

desci um lance de escada rolante, mijei e
decidi descer mais um lance, achar um
banheiro menos movimentado e tocar
uma punheta. costuma dar mais sono
depois que finalizamos mas ao menos eu
teria alguns minutos de diversão. forrei o
assento fechado com papel, baixei as calças
e mandei ver por uns 7 minutos. gozei.

depois fiquei sonhando com uma vida de Bukowski,
em viver fazendo o que gosta, em largar o inferno
do emprego público burocrático. acho que penso
nisso todo santo dia. acho que muitos pensam.
na verdade, uma pequena minoria. a maioria só
quer mesmo é encher o rabo de dinheiro e comprar
tudo quanto é merda, não importa o quão
nobre ou patético ou humilhante seja o emprego.

por que é tão difícil? por que tantos
tentam imitar o velho Buk? quantos
já não caíram de cara no chão e se
arrebentaram tentando ser ele? que sorte
teve aquele velho em encontrar seu estilo
próprio. como seria meu estilo
se eu não tentasse imitar o velho?
estilo, estilo, estilo, venha, caralho,
venha e abençoa-me.

peguei outro café, tirei caneta, um
jornal de concursos e um informe sobre
direitos LGBT da mochila e comecei a
escrever neles. em casa, se a preguiça
não dominar, se o vírus dos zumbis de
facebook não me congelar, eu passo isso
tudo a limpo em arquivo. depois talvez
poste num blog e não ganhe
um comentário. não seria
a primeira vez.

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